A característica multicultural da sociedade atual não deve abrir espaço para análises ingênuas sobre democracia cultural e poder.
Há uma hierarquia de status entre práticas e costumes sociais que formam o tipo desejado, que chamaremos de identidade e o tipo a ser corrigido, excluído, que chamaremos de diferença.
Os órgãos centrais da mídia, a escola, as religiões, a família são instituições que se posicionam de modo articulado, por meio da influência mútua entre elas, sobre como devemos ser e agir para sermos aceitos. A sociedade preza pela homogenização.
O fato de o discurso oficial sobre o que é música de qualidade, cultura de qualidade, sexualidade aceita, valores religiosos, morais e gostos socialmente aceitos penetram no senso comum de tal modo que parecem verdade irrefutável, não calcada na racionalidade, mas na falsa impressão de naturalidade.
Parece natural que música erudita é melhor que pagode. Um estudioso da arte musical poderia dissertar sobre qual exige maior trabalho, habilidade, etc. É plausível. Mas isso não significa que se pode forçar alguém a preferir um gosto sobre outro apenas sob o argumento de que é melhor.
Exceto se trouxer violência e prejudicar outros, gostos não precisam ser reprimidos. Se o mais complexo e elaborado fosse a opção para todos os momentos, ninguém beberia água.
Entretanto, devemos assumir que a sociedade hierarquiza gostos, é parte da identidade humana, parte da ideia de auto-afirmação e busca por afinidade com iguais. É um processo humano que deve ser controlado numa sociedade democrática e é para isso que existe a escola.
A escola deve respeitar as diferenças. Deve entender que jovens se percebem em comunidades imaginárias, parte de tribos. As redes sociais ainda potencializam essa ideia por unir adolescentes com gostos afins de cidades distantes. Isso não deve ser tolhido em nome de uma autoritária homogenização.
O que deve ser combatido são os preconceitos, a violência. A diferença entre os alunos não é um problema, gostos opostos, tendências conflitantes são naturais. Democracia é conflito, viver em ambiente democrático é difícil, porque em um ambiente assim, ninguém precisa esconder sua identidade e mesmo assim todos devem, no mínimo, se tolerar.
Eis um aprendizado constante.
O grande desafio se apresenta ao constatar que sequer os profissionais da educação estão acostumados a lidar com as diferenças. Argumentos morais repletos de julgamentos são ainda constantes e, de algum modo não é difícil notar que as pessoas menos preconceituosas da escola, são às vezes os próprios alunos, nascidos em uma sociedade já democrática e globalizada.