terça-feira, 24 de abril de 2012

23: Relações sociais de gênero: um direito e uma categoria de análise

As questões relacionadas ao gênero constituem um grande entrave para o aprofundamento da democracia. Isto acontece porque ainda é aceito na sociedade o discurso de que a sociedade patriarcal e a heterossexualidade são naturais e tudo o que for distoante é "opção", "exótico" ou mesmo algo a ser tolhido.

As religiões cristãs, tradicionalmente ligadas a regimes aristocráticos e portadora de uma ideologia machista e homofóbica, ainda influenciam uma parte considerável da sociedade, que considera a discriminação aos gays um ato aceitável. 

A ideia de que existem características inerentes ao gênero masculino e ao feminino estão enraizados no meio educacional, desde a formação da fila de alunos na escola, até em processos democráticos, como a divisão na eleição de representante de sala: um menino e uma menina.

Este reforço dos estereótipos acaba indo na contra-mão da democratização do país e é um ranço de preconceitos e limitadores da liberdade humana que ainda coloca uma parte considerável da população em situação de desvantagem. As meninas sentem isso ao ter que seguir um padrão moral socialmente construído que lhe coloca em posição de objeto ou complemento do homem, e o homossexual em ter que esconder sua identidade para resguardar sua própria integridade.

22: EDH, inclusão e acessibilidade

A inclusão de pessoas com necessidades especiais na educação é um passo importante para toda a geração que hoje está em idade escolar.

Em tempos de outrora, quando pessoas com deficiências mentais ou físicas eram isoladas, elas jamais conseguiriam se integrar na sociedade, porque todos estavam já acostumados a vê-los em um contexto separado, sob o argumento de que não conseguiriam competir ou acompanhar aqueles que não possuem necessidades especiais.

No entanto, com a política atual de integrar estas pessoas na escola comum, a integração ocorre na prática, com todos os choques e dificuldades que pode ter. Os jovens aprendem a conviver com portadores de autismo, deficientes auditivos e etc. Mais importante: cultivam a prática de tratá-los com respeito e solidariedade.

Se antes estes alunos seriam vistos como exóticos, com temeridade ou com distância pelos jovens sem as necessidades, agora a inclusão promove a proximidade e o tratamento de igualdade.

Há de se ressaltar que a nova legislação não exclui a possibilidade de o portador de deficiências, cursar em outro horário uma escola voltada para seu perfil.

21: EDH na sala de aula

O currículo escolar tem de estar voltado para problematizações que levem o aluno a refletir  sobre a justiça na sociedade e compreender a importância de uma cultura democrática.

No ensino de história, é interessante demonstrar a evolução dos direitos e da liberdade individual ao longo do tempo. Demonstrar como foram historicamente construídas as ideologias de desigualdade de gênero, de etnia e todos os tipos de preconceitos.

É necessário que se perceba que não há espaço para discriminação em uma sociedade democrática e que práticas racistas, misóginas e discursos fascistas são anacrônicos e não devem ser cultivadas. 

18: EDH e Ambiente escolar

A construção de direitos fundamentais do ser humano, ao longo da história, se motivaram a partir da reação aos tempos de violência, de abuso, de banalização da dignidade. 

Estes direitos, surgem ao final de guerras, no ponto culminante de alguma revolução, por meio de cartas de princípios, ou seja, não são leis formais. São "consensos" sobre o que é necessário resguardar para toda pessoa humana e inspiram futuras leis.

A escola do século XXI está inserida em um contexto onde estas leis democráticas já existem, onde os direitos humanos são assunto em todo mundo ocidental e reserva-se a uma tarefa importante: a de criar gerações que respeitem os direitos humanos.

Ao invés de precisar remediar depois da tragédia, chegamos em uma fase da humanidade onde podemos cultivar os valores democráticos desde a infância. Há um caminho longo ainda, mas cabe a cada educador trabalhar na sua parte para que nas próximas décadas, o conceito de democracia seja uma realidade cotidiana na vida de cada vez mais pessoas.

17: Plano Nacional de Educação em Direitos Humanos

O Plano Nacional dos Direitos Humanos e outros documentos vinculados com a realidade democrática, como o  Estatuto da Criança e do Adolescente e os preceitos dos Parâmetros Curriculares Nacionais são importantes para o avanço dos direitos humanos no Brasil.

No entanto,uma parcela da população brasileira é marginalizada das questões sociais e econômicas, não vivenciando e nem compreendendo o teor da mudança de paradigma jurídico e político da democratização do país.

O papel da educação é levar o entendimento acerca da importância do método democrático para ser aplicado desde as questões políticas locais até a compreensão de que cada comunidade é importante para a composição do país.

Para isso, a escola deve praticar a democracia e fazer com que seus membros se acostumem a serem ouvidos e serem parte do processo decisório quando for possível.

terça-feira, 10 de abril de 2012

20: Diferentes possibilidades culturais no currículo escolar

Por muito tempo, a história do Brasil e do mundo foi contada pela perspectiva eurocêntrica. A historiografia brasileira ao longo do século XX passou a se diversificar e se enriquecer olhando com mais atenção todos os povos que compõe a nossa sociedade, bem como as classes sociais e seus aspectos próprios de identidade.

No início do governo Lula, foi decretado que a história dos povos africanos também deveria ser tratada nas escolas, ao lado da história europeia. É uma mudança de rumo importante no currículo escolar, mas que precisa de preparo.

Ao se propor estudar povos africanos, há o risco de enxergá-los de forma alienígena, isto é, conhecer suas culturas, mas não relacionar adequadamente com o Brasil ou mesmo com a formação do mundo ocidental. Sendo assim, tomá-los como povos exóticos, percebendo suas características sem contextualização.

Essa crítica é pertinente, principalmente quando se nota que a exigência no currículo escolar de história aumenta bastante sem contudo uma carga horária decente, em que muitos povos são estudados superficialmente e sem relação com o mundo e com a realidade.

segunda-feira, 9 de abril de 2012

19: Relações etnicorraciais na escola

A escola tem papel decisivo na erradicação do racismo nas relações sociais. Hoje, o preconceito racial ao ser manifestado abertamente é criminalizado e, portanto, vem diminuindo bastante nas últimas décadas. Contudo, o assunto abordado aqui é o racismo mais sutil.

É verificável que alunos negros tendem a ter uma auto-estima mais baixa porque acabam sendo preteridos por colegas e por docentes. 

O modelo normativo da nossa sociedade é o indivíduo branco, heterossexual, estudioso e de família estruturada. Consideremos que a sexualidade pode ser ocultada, a condição de sucesso nos estudos pode ser alcançável por qualquer aluno e a estruturação da família nem sempre reflete de forma tão resplandescente no rendimento do aluno. No entanto, a cor da pele não se esconde, não se muda e não se escolhe.

Historicamente, negros libertos pela escravidão procuravam se branquear para se livrar da condição de inferioridade que se sentiam ao viver em meio aos brancos. Nos últimos trinta anos, entretanto, passaram a desenvolver uma cultura de orgulho negro, ora com traços agressivos, como os raps com letras mais pesadas, e ora exaltando valores do samba ou das influências africanas.

No Brasil, ocorre, inclusive, a influência dos negros brasileiros pelos norte-americanos, o estilo "black" de música, estética e moral, da ostentação dos grandes cordões de ouro e prata, da libido forte, das gangues e da força física. 

O cerne de toda essa construção da identidade é a recuperação da auto-estima, a formação de uma cultura própria dentro da sociedade onde o negro tem uma posição, e esta não é a de subalterna aos brancos e nem pretende ser igual aos brancos - por isso toda a diferenciação desde o estilo de se vestir até o vocabulário.

Como a escola deve se posicionar? Este assunto ainda precisa de uma resposta, mas certamente não devem os educadores tolher a formação tardia da identidade pessoal dos negros. Queremos uma sociedade de iguais, mas isso começa por entender as diferenças e permitir que todos, cada qual ao seu jeito, se posicione para um patamar de igualdade nas relações.

A propaganda abaixo é verídica e demonstra o racismo em outros tempos...


16: Encaminhamentos pedagógicos: blog no ensino de ciências

O uso de recursos de informática na escola não pode ficar restrito ao uso dos mesmos conteúdos trabalhados há décadas em papel e lousa, apenas com a diferença de serem transmitidos por meio de um projetor.

É falsa a ideia de que a educação se moderniza apenas com aparatos tecnológicos na escola. De que adianta um professor passar a usar a internet apenas para disponibilizar online a lista de exercícios ou textos análogos aos do livro didático?

Qual o avanço que uma escola pode alegar  que possui se resolve adotar um livro digital que tão somente é o mesmo livro didático, só que com suas páginas no computador, com a adição de alguns vídeos e animações como "enfeite"?

A modernização na educação deve sim usar a internet, mas precisa vir junto com o espírito democrático, com a revolução da interatividade da web 2.0. Trazer a informática para a escola significa abrir espaço para que o aluno deixe de ser um ouvinte ou leitor e passe a ser uma pessoa que aprende debatendo, interagindo, produzindo. 

Claro que a leitura, a visualização de vídeos, o ouvir serão sempre importantes para o aprendizado, mas passam a ser a instrumentalização para a construção do conhecimento que se faz na prática, na experiência, no agir do aluno.

14: Dimensões da EDH

Endossando o que foi dissertado anteriormente, a educação nos marcos dos direitos humanos é um dos grandes desafios para a ativação da cidadania brasileira.

Algo que ainda falta para que essa meta seja vislumbrada no horizonte é fazer com que as leis que já existem sejam conhecidas. Tanto docentes como alunos precisam entender de fato o que são os direitos humanos e porque eles devem ser respeitados, inclusive acima de crenças pessoais.

A sociedade democrática se faz com o respeito aos diferentes. Não se deve impor seus valores morais como os corretos para todos os grupos que compõe o povo brasileiro.

terça-feira, 3 de abril de 2012

15: Produção da identidade/diferença: culturas juvenis e tecnocultura

Uma constatação empírica sobre a escola brasileira média é a sua debilidade em lidar com o mundo dos jovens. Principalmente em comparação com a mídia televisiva e ainda mais com a internet.

Não são incomuns casos de generalização de grupos de jovens com algumas semelhanças por parte de gestores e professores. Ou de uma caracterização equivocada de seus valores e pensamentos calcados em uma análise conservadora da juventude, o discurso que sempre começa com "no meu tempo blá blá blá", seguido de uma comparação que envolve os jovens atuais em um simplismo abstrato de uma decadência irremediável.

Esse discurso não nos serve. Que decadência existe se a juventude do século XIX trabalhava, não frequentava escolas, se casava muitas vezes no início da adolescência e não tinha o leque de perspectiva de vida e sonhos profissionais que hoje atinge adolescentes de cada vez mais classes sociais?

Como pode trabalhar na educação alguém que, ao invés de fazer um estudo aprofundado, generaliza e estigmatiza seus educandos?

Cabe escutar os alunos, ler o que escrevem, observar seus blogs, seus perfis em redes sociais, seu senso de humor, seus verdadeiros valores, as diferenças entre os grupos, que não são estáticas, mas dinâmicas, pois a cultura é mutável. Deve-se entender o jovem e dialogar com ele, compreendendo que o aluno é a contraparte do processo dialético que é o sistema de ensino e aprendizagem.

Da mesma forma que o aluno é colocado para se adaptar à escola, trajando seu uniforme, se adequando aos horários e ao sistema de carteiras na sala de aula, também a equipe escolar deve se organizar para compreender aqueles alunos e se adaptar a melhor forma de entrar de modo positivo em seu mundo.

segunda-feira, 2 de abril de 2012

13: Histórico da EDH – documentos referência

A ideia da educação relacionada com os direitos humanos não é nova. Documentos internacionais existem desde os anos 60 e foram se aprofundando e ganhando abrangência nas décadas seguintes. O Brasil está inserido nessa luta e nos últimos vinte anos o tema vem conquistando espaço na América Latina.

Um grande desafio é a formação de professores, que se tornem capacitados para conhecerem e propagarem os direitos humanos e uma cultura democrática. É necessário que os professores leiam documentos como o Estatuto da Criança e do Adolescente, as convenções da ONU e da UNESCO sobre educação e direitos humanos.

Além disso, por ser uma tendência global, cabe também tomar conhecimento de avanços em outros países, de exemplos de educação democrática e cidadã que seja efetiva, que os meios de comunicação e transporte estejam à serviço do intercâmbio entre professores do mundo todo que possuem a mesma missão, de transformar o mundo em um lugar mais justo e solidário.

12: Multiculturalismo: encaminhamentos pedagógicos

A forma de trabalhar conteúdos em sala de aula, em uma pedagogia democrática, não pode ser por meio da imposição de verdades únicas. 

Em história, não se deve apresentar versões e teses como se fossem fatos. Claro que existem estudos que reforçam essa ou aquela versão, mas principalmente em casos políticos como a revolução francesa ou a era Vargas, a seleção do material e do discurso do professor em sala é uma escolha com consequências políticas.

Com qual imagem trazer os jacobinos em aula? Ou enfatizar mais a tirania ou o desenvolvimento nacional durante o governo de Getúlio? São questões que mexem com os professores de história porque não existe neutralidade.

Ao selecionar uma versão para a linha condutora da disciplina, é preciso ter o cuidado de enfatizar que se trata de uma possível narrativa com viés científico, mas que não invalida outras. Deve se possível apresentar outras versões, permitir que alunos tragam material, abrir debates, fazer com que os alunos compreendam as ideias e intenções do ponto de vista de cada grupo político da época.

E para encerrar, a ideia mais importante: se a neutralidade não é alcançável, o vulgar maniqueísmo é perfeitamente evitável.

11: Políticas culturais, multiculturalismo e currículo

O multiculturalismo está em voga em nossa sociedade desde a redemocratização. A exaltação da diversidade é realizada até mesmo por canais de televisão. O currículo escolar ao longo das últimas décadas foi profundamente influenciado por estas ideias, principalmente por ser um contraponto à educação preconceituosa e autoritária dos anos de ditadura.

No entanto, o campo do multiculturalismo é complexo e repleto de caminhos perniciosos. É possível, para tomar um clássico exemplo, reconhecer a diversidade, mas apontar aos poucos que um modo de ser, uma crença, uma formação filosófica é a mais correta.

O cristianismo é cliente fiel dessa atitude. Escolas promovem "cultos ecumênicos" e convidam um somente clérigo católico. Ou professores advogam pela reza do pai nosso, incutindo a falsa ideia de que é uma oração de "todas as religiões". Também podem desconsiderar ou desaconselhar o estudo ou a adoção de práticas e ideias que não são aceitas pela crença cristã.

É necessário não permitir que o autoritarismo revestido com a máscara da diversidade prorrogue o pensamento unitário e preconceituoso para as gerações seguintes.

O multiculturalismo deve respeitar as diferentes identidades, problematizando-as, questionando-as e abrindo espaço para que cada pessoa desenvolva seus valores e princípios, que o campo do debate seja o espaço limpo para a formação do cidadão, ao invés da moldura reprodutivista.